Saudade

Hoje acordei em meio a saudades...

Saudade...

de um tempo que não vivi

do abraço que não te dei

dos teus olhos que não fitei

de uma dor que nunca senti

Saudade...

do calor morno da tua mão

de esquecer tudo o que eu cria

do teu amor, minha fantasia

do beijo que nasce da solidão

Saudade...

da criança que se foi um dia

do sentimento que não sarou

do abraço amigo que não abraçou

do indelével signo que me definia

Saudade...

de beber a vida entornando a taça

de correr o mundo com os pés descalços

de unir as mãos amantes em entrelaços

da inocente flor roubada na praça

Saudade...

dos tantos “Eus” de que me componho

da imagem clara por trás da persona

das estrelas ébrias caindo bufonas

de ouvir o teu riso em meio ao meu sonho

Saudade...

do teu amor puro a me ninar as horas

das tuas pernas nuas a buscar as minhas

do teu cheiro laico quando me vinhas

do sal do teu corpo quando vais embora

Saudade...

do grito latente nos tempos de guerra

do gesto incontido em busca da paz

da crua esperança que a paz nos traz

do amor regendo a vida por toda a terra

Tenho saudade de tudo o que não sonhei

A viva saudade do tempo ermo que não passou

A saudade quieta das lágrimas que não chorei

A saudade incontida e cálida do que ainda sou.