Cinzas - eu pensei que tinha cinzas
Engraçado. Eu podia imaginar que, se eu a visse novamente nada iria acontecer. Sabe, quando você tem a impressão de que a chama apagou. Acabou o fogo e só restaram as cinzas. Cinzas! E mais nada. Eu, eu pensava sinceramente que só restavam as cinzas. Eu passava todos os dias ali naquela mesma calçada, apressada. Bolsa atravessada, de tênis, correndo pra lá e pra cá. Uma hora entrando no banco, outra hora no ponto do ônibus, no Boticário, na loja de fotografia, enfim, tomava um caldo de cana na lanchonete, um café na padaria. Mas eu passava todos os dias, impreterivelmente com a única missão de poder olhá-la pelo vidro da vitrine dentro da loja parada, a espera de um cliente.
Mas eu calculava milimetricamente a hora de olhá-la novamente. Olho no olho. Como seria? Imaginava, esperava ansiosamente por esse dia. Não deu outra. Mandei fazer os convites. Os convites para o lançamento do meu livro...
Então de posse deles, entrei na loja. Respirei fundo, tomei coragem e fui direção a ela. Ela foi ficando assustada com os olhos arregalados eu disse: oi - vim trazer o seu convite! Ela sorriu e perguntou se era do meu casamento. Eu disse que não. Era o nascimento do meu primeiro filho. Ela então olhou para mim, fitou a barriga e não viu nada. Nem um volume. E eu sorri e disse que era o lançamento do meu livro e que a queria presente no dia tão especial da minha vida. Ela sorriu, respirou fundo e prometeu que iria. Eu saí dali de costas para poder olhar mais a sua face e fiquei como uma adolescente perdida com uma imagem que buscava há tanto tempo, perdi completamente a noção e vim embora para casa, comecei a pesquisar na internet até encontra-la num página de relacionamentos, a encontrei e agora eu tenho a sua foto no meu celular, para eu te olhar a hora que eu quiser, já que eu não sei se a terei novamente.