Sem inverno, sem castelo
Acabaram-se as palavras
Não há mais linhas a escrever
Espalham-se as mortalhas
Sobre as poesias por nascer
Acabaram até as dores
Que afligiam a raça humana
E não há mais vinho ou rancores
Pra lembrar da vida a chama
Toda a música é morta
E não há mais frio ou calor
E a boca é a porta
De um amargo dissabor
As mães não reconheceram seus filhos
Pois definhou toda lembrança
E acabaram-se os martírios
Quando morreu tod'esperança
Toda cor foi esfacelada
E o mundo foi um brilho vão
E a luz foi aos poucos apagada
E o negrume era a solidão
E nesse mundo já sem vida
Além dessa alma em mocidade
Só o que restou da sua partida
Foi amor – e saudade.