Homenagem a minha vó-Tertulina Freires Cavalcante(in memória)
A casa em que morávamos
Tinha um pequeno alpendre
Naquele lugar eu contemplava
As noites enluaradas
Repletas de mil estrelas
E vovó num canto rezava
Seu rosário era branquinho
Como o da Virgem Maria
Tinha seus quinze Mistérios
E de seu pescoço
Não saia!
Rezava todos os dias
Seis da manhã, seis da tarde
Pai nosso...ave Maria...
Quando ela terminava
Sua santa devoção
Eu ia me aproximando
Com amor e dedicação
Pedir pra contar estórias
Que até hoje ainda guardo
Dentro do meu coração
Eram estórias de trancoso
Reis, raínhas, princesas
E até reinados assombrosos
Passando pelo enredo
Do "pavão Misterioso"
Era Literutura viva
Que até hoje
De lembrar faz gosto!
As estórias que ela contava
Para mim eram reais
Reis, raínhas, príncipes, princesas
E homéns nos matagais
Igualzinho a dos "quarenta ladrões
Que não esqueço jamais!
O luar nos envolvia
Com uma brisa serena
Eu ia imaginando
E vivendo cada cena
Ser "Cinderela" eu queria
Porque valeria a pena!
Como sempre apreciei
Histórias de heroísmo
Nas quais humildes e humilhados
Não se deixam por vencidos!
Nem sempre o dinheiro e o poder vencem...
Já estava subtendido
Me via naquela cena
Sendo a privilegiada
De só dançar com o príncipe
Embora ninguem sabia
Que antes da meia-noite
Na carruagem eu fugia!
Meu sapatinho eu queria
Também deichar na escada
Do palácio daquele príncipe
Oh! que estória engraçada
A mente faz cada coisa
Que jamais será explicada
Contava: uma, duas,três estórias
Com voz suave e delicada
Fazia Literatura
De uma forma engraçada
Eu dormia satisfeita
E pra minha vó rezava
Tempo bem...inesquecível
Que marcou minha infância
Até seu vestido florado
Guardo na minha lembrança
Com um zipinho de lado
Encantou meu "EU" de criança
Escrevendo esta homenagem
Não deixo de recordar
Até mesmo aquele cantinho
Lá no fundo da conzinha
Que ela gostava de sentar
E sua voz ficava rouca
De tanto eu aperriar
Na casinha de alpendre
Pequenina, aconchegante
Celebrava-se "Maria"
O mês de maio inteiro
Depois os jovens se reuniam
Naquele lindo terreiro!
Nessas novenas minha vó
Cantava todos "benditos"
Em honra à Virgem Maria
E todos? muito bonito
Com voz firme e suave
Que chegava ao infinito
Hoje escrevo esta homenagem
Com saudades e emoção
Uma vó igual a minha
Tá sendo pura ilusão
De tanto ouvir estórias
Faço poesia de montão
Se chamava "Tertulina"
Eterna imortalidade
Que mora em meu coração.
Poeta Intuitiva
Cascudo, Icó-Ce-25/11/09