Tuas mãos

De ti, o que mais ficou-me

Foram tuas mãos

Como imagem viva

Habitam minha lembrança

Povoam minha saudade

Reais, presentes, as tuas mãos.

Mãos ásperas, sofridas

Do trato com a terra

No semeio do grão

Da lida com o gado

Do cultivo do campo.

Mãos rústicas, dignas

Na cumplicidade extrema

Do homem com o chão

Sabiam a língua das plantas

E destas extraíam

Milagres de vida

Para nossa mesa farta.

Mãos sulcadas, feridas

Crestadas de sol

Marcadas de calos

Temerosas na estiagem

Exultantes na colheita

Num pacto generoso

Com o pão de cada dia.

Mãos fortes, abençoadas

Durante longos anos, foram

Esteio e norte

Da nossa casa simples

Depois em paz

Adormeceram

E com certeza, sei

Em algum ponto estão

A cultivar agora

Canteiro de estrelas.

(homenagem ao meu pai)

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 22/11/2009
Reeditado em 09/12/2015
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