Tuas mãos
De ti, o que mais ficou-me
Foram tuas mãos
Como imagem viva
Habitam minha lembrança
Povoam minha saudade
Reais, presentes, as tuas mãos.
Mãos ásperas, sofridas
Do trato com a terra
No semeio do grão
Da lida com o gado
Do cultivo do campo.
Mãos rústicas, dignas
Na cumplicidade extrema
Do homem com o chão
Sabiam a língua das plantas
E destas extraíam
Milagres de vida
Para nossa mesa farta.
Mãos sulcadas, feridas
Crestadas de sol
Marcadas de calos
Temerosas na estiagem
Exultantes na colheita
Num pacto generoso
Com o pão de cada dia.
Mãos fortes, abençoadas
Durante longos anos, foram
Esteio e norte
Da nossa casa simples
Depois em paz
Adormeceram
E com certeza, sei
Em algum ponto estão
A cultivar agora
Canteiro de estrelas.
(homenagem ao meu pai)