(A MINHA) SAUDADE

Doce é a saudade apenas quando

Seu final logo vai se aproximando

Tanto que ouço até seu respirar...

Pois é, em si, um prelúdio do momento

Em que o júbilo sobrepuja o tormento

E nossos corpos ocuparão igual lugar.

A saudade que alimenta a esperança

E que aviva a imagem na lembrança,

Essa é sadia; tal saudade faz-me bem.

Se, por um lado, dói na alma sua ausência

E até calmo, me aflijo e tenho urgência,

Por outro, vejo o quanto me convém.

Mas a saudade de nunca ver, nunca sentir,

De não furtar um beijo e seu riso não ouvir,

Essa machuca e amarga a vida como fel.

Pois aniquila a lembrança, a cada dia,

Do seu cheiro, olhos, lábios e alegria,

E transforma em inferno o meu céu.

Não, essa saudade não me serve mesmo.

Uma saudade que lança a ventura a esmo

E que corrói meu sentimento mais puro?

Não admito ver-lhe só em pensamento.

Quero fazer-lhe o mais terno acalento

E enxergar-lhe inteira ainda que no escuro.

Não prive meus sentidos, não se furte,

Venha comigo... Eu bem sei que você curte,

Do amor, as infinitas e desvairadas formas.

Não nos basta fingir de estar presente,

Melhor, muito melhor, um beijo ardente:

Mata a saudade e assossega nossas almas.

Venha...

(21.Mar.03)