Ausência
Sinto-me, sem sentir, toda em brasa
No rigoroso fogo que me alenta
O mal que me consome me sustenta
O bem que me entretém me dá cuidado;
Ando sem me mover, falo calada
o que mais perto vejo se me ausenta
E o que estou sem ver, mais me atormenta
Alegro-me de ver-me atormentada;
Choro no mesmo ponto em que me rio
No mor risco me anima a confiança
Do que menos se espera, estou mais certa;
Mas, se de confiada desconfio
É porque, entre os receios da mudança
Ando perdida em mim como em deserto!