O homem do adeus (para “A mulher na ponte”)
Este tempo de inverno gelado aumenta sua dor física e interior
A perna que não existe mais depois do acidente ele ainda sente
Mas a saudade da esposa dói muito mais em seu coração
Como ele pôde ser tão fraco?
Como pôde abandoná-la sem nem olhar pra trás?
Todos os dias ele senta para lhe escrever poesias
Suas gavetas já não têm mais espaço para tanto papel
Jamais envia qualquer uma delas
Não possui mais e-mail desde então
Imagina que depois de tanto tempo ela já deva estar casada
Sofre imaginando um outro tocando aquele corpo tão amado, desejado
Lembra-se de quando faziam amor a noite inteira
Os carinhos e cócegas que ela lhe dedicava
Tem saudades do perfume dos cabelos curtos que ela usava
Da sua leveza com vestidos floridos dançando pela casa
Quando então a pegava nos braços e rodopiava no ar sorrindo
Lembra-se de como ela orava todas as noites para que ficassem juntos
Lembra-se dos planos de terem uma menina chamada Júlia
Às vezes à hora do almoço sente o aroma do nhóc que ela fazia aos sábados
Todas as noites ele olha pela janela e tem a impressão de enxergar uma luz longínqua
Sua covardia em vê-la sofrer ao seu lado o fizera tomar a decisão errada
Agora não tem mais como voltar e recomeçar do zero
Sabe que a magoou demais sem que ela o merecesse
Perdeu sua chance de felicidade, morreu em vida
Tantas mulheres já passaram por sua cama, mas nenhuma com significado
Tudo tão frio, vazio, sem sentido, sem prazer algum
A garrafa de vinho é a única companhia nesses dias tristes
No apartamento ao lado, o rádio toca uma música: “tão longe, tão longe...”
A foto dela naquela ponte ainda está embaixo de seu travesseiro
Jamais deixou de amá-la, jamais conseguiria amar qualquer outra mulher
Viverá essa vida desértica, esperando um perdão distante algum dia
Como o sopro de um beijo nas asas de uma borboleta