Quando o tempo me abraça
Te escrevo como legendas,
frases nas areias,
lidos pelos olhos do tempo,
apagadas pelas mãos do mar.
Os mesmos olhos que me levam,
nos fazem frente a frente,
pelas mãos que às vezes me esbofeteiam,
quando busco o frescor da carícia.
Sei que te escrevo,
não para serem queimados
pelo azul dos teus olhos,
mas, pelo vermelho do fogo,
num ávido e determinado jogo,
onde as cinzas hão de formar meu nome,
hás de pronunciá-lo,
como hoje o fizestes.
Já não me importo com os fins,
neste limiar de distúrbios.
Já não procuro entender as causas,
as vindas de tantas mágoas,
neste ar antagônico,
onde és a verdade, a vida,
enquanto sou partícula, sou irônico,
tentando esconder que conheço o medo,
na fúria do vento, na tempestade,
sem que houvesse a mão acalentadora.
Já não importa, o medo existe,
no tédio, na solidão,
por onde te escrevo legendas
que serão apagadas bem antes,
antes da paz azul infinitamente
para confeitá-las com as contas
nos meus contos de amor e saudade.