Credulidade
Tento negar meus olhos aos seus,
a presença na hora certa,
só que, já é tarde.
Tarde, a mais uma fuga.
Você já é poesia em meu corpo,
desliza pelas pautas,
pisa em todos os vocábulos,
dividindo-se nas rimas.
É tarde para que o crepúsculo venha,
as cores são firmes,
as folhas já desceram
e meu olhar baixo, foge
mergulho no azul.
Embriago-me, sou afogado,
mas deixo no canto da boca,
mistura de sorriso,
pouco de desejo enquanto vagueio,
faço, transito no espaço,
neste infinito tão longo,
rebuscando no mesmo cansaço
o ponto do sono,
a hora do sonho,
quando, quando percebo que posso,
talvez possa mesmo esquecer
tantos, tantos motivos que me levam,
me arrastam ao choque violento contra o papel,
num sopro de vida íntima,
já sem tanta privacidade.