Rua da minha cidade

A rua da minha cidade é uma aldeia.

Nas tardes de sol o trânsito some-se.

Moscas e moscardos zumbem de jeito sórdido.

Com origem difusa dimanam pios de melro, jovial cativo algures entre o 47 e o 59.

Vespas fazem voos rasantes às malgas de marmelada do 3.° esquerdo.

E a inexistência do polícia, na esquina, é tão aldeã!...

As amoreiras do campo da feira podem ser tudo.

E eu, que vejo esta quietude esbrasadora do meu gabinete de trabalho, posso ser o cão de guarda cuja casota dá para o eirado.

O CD do Alex, som no máximo em bass e Counting Crows, tem ecos de gado a que a ração fez sede.

Conversam senhoras na esplanada... mas podiam ser comadres no portão do casal.

Quando a rua da minha cidade é uma aldeia é que eu compreendo a pequenez estúpida do meu meio.

Verão/94

ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 27/10/2009
Código do texto: T1890313
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