O ÚLTIMO VÔO

A águia sobe aos céus em um vôo certo;

Leva a alma nobre e o coração guerreiro;

Percorre a imensidão com o peito aberto

Buscando em Deus o descanso derradeiro.

Tomba o bravo pelas mãos da vilania;

O pobre corpo cede à força da injustiça;

Mas a torpeza, que a carne desafia,

Liberta o espírito da estrutura submissa.

Desde bem cedo denuncia a verve ardente

E a justa têmpera tanto quanto indomável.

A natureza lhe brindou com uma voz potente

E da verdade fez-lhe o arauto incansável.

O jeito altivo mostra o drama que impera:

Livrar os seus de todo mal e iniqüidade.

E quem lhe via com a feição acaso austera,

Também sentia as veias plenas de bondade.

Nunca morre nem se esquece quem transmite

Aos descendentes, pelo exemplo, as virtudes.

Um pingo só do sangue audaz desse Quixote

Imprime fibra e honra em nossas atitudes.

Fomos privados do candor de sua velhice,

Então que fique-nos o brio na memória,

Mantendo o ímpeto que em nós jamais fenece,

Para a impunidade não lograr outra vitória.

A águia deixa em terra a companheira;

Que ave rara, em coragem e devoção!

Da chama acesa zelará a vida inteira,

Para provar que a águia não se foi em vão.

A águia chega aos céus envolta em luz.

A falta sua já nos causa dor atroz.

Finda seu vôo bem aos pés da Santa Cruz,

Para dali, junto ao Senhor, cuidar de nós.

18.Mar.02