Roberto de Lacerda - Cronista
CÂMARA ARDENTE PARA VINÍCIUS DE MORAES
Ao chegar à casa do poeta a porta estava entreaberta
Como a diástole do coração da mulher que ainda ama
Rolava uma quente lágrima na verdura da janela aberta
Como se daquele momento móvel se fizesse o drama
Ao entrar na sala imensa de um vazio real e maduro
Senti então o arrepio do encontro com o inexorável
Daquele ambiente humilde e quase vazio e escuro
Como a sístole de uma saudade cinza e inexplicável
Jazia o semblante do mestre na presença da gente
Silencioso e branco como a bruma da humildade
Fazendo repousar em seu peito uma flor inocente
Que trazia o cheiro da beleza e a dor da saudade
As cores de abril se misturavam infinitas na alma
E na mente da última esperança de viver em paz
Daquele que soube amar com tanta graça e calma
E nos levou a viver cada segundo como nunca mais