ANCESTRAIS
Trago em mim saudade rara,
da aurora da minha geração;
digo, do negro das senzalas,
precursor do calo na mão
e da dor no coração.
Ouço claro o açoite e o choro
à noite cruzarem o luar;
e também vejo no terreiro
a mucama sapatear;
e a roda a entoar um canto.
E, no entanto, àquele pranto eu não verti.
Mas cá no canto do peito,
algo me diz que lá também vivi.
Porque também desejo romper as amarras,
resistir todas as barras,
ser feliz como um menino.
E essa saudade que me aperta,
feito um banzo,
vem mansinha, vem de longe,
acho que é o meu destino.
Vem de muito tempo atrás,
com uma força que é demais;
a dos meus ancestrais.
O amor clareia os corais,
com o sal de prantos demais;
ai, meus ancestrais.
Um pilão lamenta a paz.
Meu Deus, por que não a paz?
Ó, meus ancestrias!