RECORTES DOS MUSSEQUES

Sob esse meu passado infeliz

Há recortes de jornais de casebres

Onde dentre nostalgia saem febres

Que aquecem a escuridão à meretriz

Ecrãs nunca dantes comprados

Mas enlameados aos esgotos

Fazem de nós fãs com desgostos

Desses recortes tão empoeirados

Olhei para mim e vi recortes

Que ainda causam saudades

Dos jornais das leviandades

E cujos ardinas fogem acoites

Desses recortes desencantados

Ouço ora cantos desataviados…

Ora o deflagrar de ondas atlânticas

Que ensaboam ruínas enfáticas…

Colei nessa desusada parede

Meus retratos…

Meus prantos…

Além deste poema que nada pede

Desses recortes decorados

Em quartos de musseques

Só vejo corajosos muleques ´

Que ainda cedo já se dizem cansados

Sob esses musseques de recortes

Há quem escrevesse de alegria

Mas vejo que esse passado feria

Deambulares mesmo fortes…

Escrito em Luanda, aos 13 de Outubro de 2009.

Nkazevy
Enviado por Nkazevy em 13/10/2009
Código do texto: T1864277
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