Sensação: Lembrança
Sensação
Lembrança
Me parecia, naquela época, que não durou mais que o período de um segundo, que meus olhos se inclinavam a enxergar o invisível...
Eu dizia para quem quisesse ouvir, às pessoas do meu pensamento, que essas coisas invisíveis, indeléveis, que envenenam ou curam a alma e que migram para o corpo, são as sensações.
Eu já havia sorvido minha dose alcoólica de loucura logo após beber, com estranheza familiar, duas xícaras de chá de beladona. Glorioso elixir e preciosíssimo veneno. Fera revolta, águas comprimidas pela ilusão. Não foi assim que eu quis relembrar, idealizar teus olhos, mas foi assim que eu evoquei, com balbucios e onomatopéias, o teu nome, o mistério da minha dor-amor.
Naquele segundo, mil milênios além, uma era inteira erigida no centro do universo eu silenciei e percebi, com deleite, um ritmo cadenciado de belas notas musicais instaladas no Éter. Ouvi o sol brilhar!
Foram períodos longos, felizes, hostis, infindáveis que meu corpo evaporou, eu morri. Minha alma, meu espírito incompleto, não olvidou sua sensação, e com ela cavalga pela eternidade.