Explosão de fêmea
Quero explodir em gargalhadas pelos bares da cidade
Num porre total sem precedentes
Arrebentar os elos da corrente da hipocrisia
Excomungar as leis e os azares
Quero esmurrar a mesa cheirando a cachaça
E inverter os meus dias embocados de amarguras
Quero vestir de vez o meu próprio luto
Rasgar as poesias que ficou sem editar
Gritar bem alto que estou muita puta
E ouvir meu próprio ego do grito
A indagação do meu eu do ser-ou-não-ser
Quero engolir as palavras que me atacam
E trucidar pessoas que me enervam
Assustar as nuvens que me entrevam
Esquecer os covardes que me empacam
Comer homens por quem sinta tesão
Amar sem deixar vestígios
Dizer que o beijo é a conseqüência do adeus
Como a comida num prato vazio
Quero votar em mim pra ser a rainha da poesia
Lavar a alma com cachaça e água benta
E esmiuçar a hipocrisia da sociedade
Quero, enfim, ser pra sempre a puta
Que meu lado lúcido não agüenta
E o lado poético e louco vê com amor e respeito.