Encruzilhada do Tempo

Não a vejo há muito tempo, nem mesmo a tenho próximo de mim, sequer a posso tocar.

Dou as mãos à Saudade e o perfume da ausência, esta tão cruel ausência, torna-a ainda mais presente.

De tal forma que a tenho sempre inteira, no umbral da irrealidade, sorrindo, em minha frente

Chove forte lá fora. Por que querer acordar, se me é tão benfazejo este sonhar?

O tempo de Chronos escoa de sua ampulheta, contínuo, célere – inclemente.

Prende em seus grilhões almas que choram; que se lamentam - mas teimam em dele não se libertar.

Sigo a faina de Kayros, mais cadenciada, uma maneira bem mais delicada, para se viver – para se amar.

O tempo de Chronos é pesado, improfícuo exigente. Kayros é um deus bem mais leve – nunca se atrasa: está sempre presente.

O tributo a Chronos é alto; tem cobranças escorchantes - às vezes impossível de se quitar.

Cobra-nos a própria vida, que como insensatos entregamos, como ébrios perdidos.

-Para que? Perguntamos-nos naqueles raros momentos em que nos olhamos – estarrecidos.

O tempo do amor é o tempo de Kayros, um tempo sem pressa, de não se afobar.

De agir com certeza, com carinho e leveza, no momento preciso – nem cedo e nem tarde.

Não tem a azáfama de Chronos, faz as tarefas com calma. Kayros é paz e quietude – é avesso ao alarde.

Há alguns anos li um livro intitulado “Momo e o Senhor do Tempo”, em que homens cinzentos que fumavam charutos perseguiam a protagonista. Suas vidas duravam o tempo de seus charutos acesos – o que fazia com que eles se desesperassem em busca de um antídoto que Momo, a protagonista, sabia aonde se encontrava.

Vale do Paraíba, noite da segunda Terça-Feira de Fevereiro de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 06/10/2009
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