Aromas do Campo
AROMAS DO CAMPO
Acordei em minha cama da infância
Sentindo o cheiro do saboroso café
Manhã de domingo na estância
Pulei da cama, sentindo frio no pé.
Mamãe revirava lenha no fogão.
Na varanda o velho vovô japonês
Reclamava com os homens da terra
Que ainda não tinha salário do mês.
O homem do dinheiro o português
Cobrava tudo, de todos, toda vez
Mamãe serviu café para todos
Banana assada, pão, biscoitos, bolos.
Trabalhadores de faces sulcadas
Mãos calejadas, feias, maltratadas
Cabo de enxadas, pás, nas costas
Atrás dos morros, das encostas.
Os lindos e cheirosos laranjais
Cobriam de folhas todo o chão
Doce perfume de lima, limão
Laranja limão, lima, limão
A hora do almoço chegava
Rápida, a fome me encontrava
No meio do pátio tão esfomeada
Na cozinha, mamãe faces afogueadas!
Tantas panelas, tantas delícias
Diferentes sabores, excelentes odores
Gravados nas recordações, carícias
Que resgato, lembrando amores
Meu pai saboreava galinha ensopada
Mamãe fazia bolo de fubá com café
E íamos lanchar debaixo do pé
De laranja lima, até ficar enjoada!
Laranjas, laranjais, festa nos quintais
Retiro saudosa do fundo da memória
O tempo em sua trajetória
Traz de volta o cheiro do campo
Adormeci sentada sobre a mesa
Em uma apertada e pobre sala
Relembro todos os desenhos
São detalhes em pequena escala
Revejo o retrato de meus avós
Ainda cobertos de pó
Os pobres bancos de tão velhos
Ficaram aos poucos sem fala
Em mim a dor saudade não cala
Triste saber que no fim da estrada
Quase não restou mais nada
Restos mortais, vidas acabadas.
A geringonça moia os feixes de cana
Se a mente não me engana
Em um caneco escorria o caldo
Esverdeado,concentrado, melado
Cheiro de carne de porco frita
Farofa, feijão, toucinho, torresmo
Restos de lenha ardida no fogão
Gordura e sujeira pelo chão.
No ar o grito dos gaviões
Aprendendo a voar, se libertar
Acordei sexta-feira preguiçosa
Sinto-me tão curiosa...
Ainda respiro os aromas do campo
Na minha infância distante.
Ainda sinto os aromas do campo
Em minha saudade marcante.