A lousa e a cruz

Lá no alto da ribeira,

suspensa, uma cruz caiada

faz sombra à lousa gessada

onde repousa meu pai;

é onde velha mangueira

carrega fruta rosada,

é lá que minh'alma inteira

chorando por noites vai.

Lá se encontram cotovias,

as rolas formam casais,

faço lá verter poesia

e espero todos os dias

que os dias me esperem mais;

quero ver flor na videira

e sonhar entre os florais,

mas lá a minh'alma inteira

chorando por noites vai.

Bebo as águas da ribeira

jaspeadas pelo lamento,

e sobre a lousa, na poeira,

abro a frase de um poema

que guardo por muito tempo:

“basta cobrir-me, não tema;”

desço a mansa da ribeira

numa prece pro meu pai,

e é lá que minh'alma inteira

chorando por noites vai.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 26/06/2006
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