Bela Cerca
Para Lena de BH (do portal Luis Nassif)
Vendo sua cerca,
Lembrei-me da minha.
Passava de um lado para o outro
Escondia da Vó
Corria da Mãe...
e sempre encontrava um buraco onde menos esperava.
A cerca sempre foi nossa amiga
Fazíamos xixi nela
Torcíamos para não existir aranhas, formigas e carrapatos
Gritávamos com as taturanas
e brincávamos com as amoras e tomates que brotavam por perto.
As cercas eram pequenas e grandes
Eram usadas para tudo.
Prendíamos as galinhas e os pintainhos
Cercávamos os cachorros
ou a usávamos para sossegar o vizinho no lugar dele.
Também cercávamos as hortas
E arrancávamos partes para furar o mamão e o jiló
e a cada bambu podre encontrávamos outro verde para colocar no lugar.
Também sacaneávamos a cerca
Pendurávamos roupas, cuecas, camisas do Atlético Mineiro e toalhas
O bambu maior e mais forte era usado para acudir o varal de corda de plástico
Mas sempre arrancávamos partes e fazíamos postes para o futebol
Deixávamos a cerca banguela
e não raro, a roubávamos para fazer pipas e papagaios.
Eram cercas diferentes
Elas permitiam ver o quintal vizinho
e que passássemos para o lado de lá quando conveniente
Permitia que víssemos a laranja em amadurecimento e o quiabo doido para cair
Através dela acompanhávamos a bela morena do quintal ainda com pouca roupa
E com ela nos sentíamos mais humanos e integrados
Infelizmente elas estão sendo substituídas por muros de cimento
Os passarinhos, os coleirinhos principalmente, já não fazem seus ninhos por lá
E aos poucos já estão acabando com as hortas e as laranjeiras.
Também já não vejo o próximo
Não percebo as pernas da vizinha
E pouco me importa se a Dona Maria está apanhando: “Não estou vendo mesmo”!
Belas e banguelas cercas
Saudades de minha infância e quando ainda achava que os homens eram mais humanos.