quociente

A dança solitária do vento

A banir folhas em outono

A gemer entre os galhos secos

E ritualisticamente suspensos

O tempo passou, meu caro.

Não adianta atrasar relógios.

Ter saudades ou remorsos.

Remoer baixinho dúvidas cruéis.

O tempo passou, meu caro.

O bonde não parou.

O ônibus não parou.

E, o avião apesar de ter decolado,

explodiu.

Não sobrou nada

As vítimas se tornaram invisíveis.

Seus cadáveres se tornaram intangíveis.

Só na memória, nas fotografias.

E nos papéis existem registros de sua vida,

De sua trajetória,

O resto?

E o que restou?

Fico inconsciente esquecido numa

operação aritmética qualquer.

Dividido entre o horizonte e o abismo.

Partido no coração sem alma.

Que vaga por sentimentos insanos

e imberbes.

Daqui de longe enxergo ainda

a janela,

a escotilha que dá para o outono.

Para a dança solitária

do vento.

Para os lamentos uivantes

do tempo

A envelhecer corpos e faces.

Daqui de longe

O vento é mais ruído do que movimento.

A luz é mais fluída do que poderosa

E você é mais abstrato que tangente.

Terá sido gente?

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/08/2009
Código do texto: T1770877
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