quociente
A dança solitária do vento
A banir folhas em outono
A gemer entre os galhos secos
E ritualisticamente suspensos
O tempo passou, meu caro.
Não adianta atrasar relógios.
Ter saudades ou remorsos.
Remoer baixinho dúvidas cruéis.
O tempo passou, meu caro.
O bonde não parou.
O ônibus não parou.
E, o avião apesar de ter decolado,
explodiu.
Não sobrou nada
As vítimas se tornaram invisíveis.
Seus cadáveres se tornaram intangíveis.
Só na memória, nas fotografias.
E nos papéis existem registros de sua vida,
De sua trajetória,
O resto?
E o que restou?
Fico inconsciente esquecido numa
operação aritmética qualquer.
Dividido entre o horizonte e o abismo.
Partido no coração sem alma.
Que vaga por sentimentos insanos
e imberbes.
Daqui de longe enxergo ainda
a janela,
a escotilha que dá para o outono.
Para a dança solitária
do vento.
Para os lamentos uivantes
do tempo
A envelhecer corpos e faces.
Daqui de longe
O vento é mais ruído do que movimento.
A luz é mais fluída do que poderosa
E você é mais abstrato que tangente.
Terá sido gente?