Fragmentos
Lembro-me daquela tarde
a serenidade
impressionante
como uma folha
translúcida no ar
rodopiando
feito meu amor
que não se alimenta
mas vive
triste e solitário
a buscar fragmentos
monumentos
belos sonhos
águas marinhas
abelhas
vespas
ciclos naturais
longe das cidades
perto do mar
a amar
e procurar
onde ela está
que feito criança
a perco
e de tal modo
não sei.
Se a espera
e tudo que passo
as estrelas
os astros
recusam-se a definir
qual espaço
que vazio
surpreende-me
vejo o clamor
da aurora
da bela hora
meus e teus
que afinal
não são
nem grandes nem Romeus.
E a poesia
(elemento tedioso)
inspira poetas
e descobre segredos
qual cachoeira
que do alto
cai com força
machucando
o lago
o rio
a foz
o oceano
toda a imensidão
que entendo não
entreabrindo
largas orações
lamentos
obras primas
como o cego
que via
e gritou:
“Tende piedade
Filho de David! ”
e desde então
ficou são.
E ela
não me entende
nem mesmo
me vê.