SINO DA TARDE

Sino na tarde, no ar fino e parado da tarde,

sino, oh sino, meu irmão em saudades e agonia!

Sino, oh sino, como me comoves ao vir à tarde,

quando as janelas do sentimento

se abrem para o mundo da reflexão e do mistério!

Neste momento, o coração do crente

se funde no silêncio das coisas

para nascer de novo,

qual gotas de orvalho que o anjo da noite

deixara cair como pétalas de estrelas

e os anjos da manhã, sob a bênção do sol,

as colherão sorrindo.

Quando o sol se fecha

para chorar dentro da tarde

e o infinito em nós se funde

e se confunde,

sinto que vem,

num coro de mágoa e desespero,

o gozo e o prazer de ter vivido,

a dor imensa de viver ainda.

Nesta hora em que tudo se recolhe

ao inalterável seio do mistério,

deixo que me tanges, oh velho sino,

sobre a vastidão do meu mundo

arruinado e vazio.

MANUEL MARTINS

Academia Betinense de Letras
Enviado por Academia Betinense de Letras em 18/08/2009
Código do texto: T1760204