o privilégio do trabalhador
Este poema foi publicado no livro de minha autoria, "Noite Vento e Chuva", pela Edigraf, São Paulo 1986. Foi feito pensando no meu pai, José Mariano, que faleceu em 1956. Dediquei-o também a um grande amigo e mestre, o Professor Waltely. Meu pai era um homem que tinha o sentimento do mundo. Semi anafalbeto, no entanto me ensinou a gostar das letras. Ele me dizia que só existe uma forma de sermos felizes no mundo. Assumi-lo completamentte, como se ele fosse a nossa própria família e a nossa própria casa. Nos doarmos a ele sem esperarmos reconhecimento ou recompensa. Hoje, aos sessenta e quatro anos ainda não encontrei uma fórmula melhor para voltar para casa contente, do que essa que ele me ensinou.
Republico-o aqui em homenagens a todos os pais, que como ele, souberam cultivar o verdadeiro significado da palavra Assunção.
A cidade que completa os homens não foi Atenas.
Nem ouvi que fosse outro o reduto dos homens completos..
Se esperança ainda houver, buscai-a nos livros,
Ou pode ser que a encontremos no olhar da mãe,
No amor do amigo, ou até no candidato que ganhou.
Os que já morreram ainda nos governam.
Ditam leis, nos policiam o pensamento.
Meu pai morreu, o teu também,
Julgamos que deles nos libertamos,
Mas cada dia parecemos mais iguais.
É claro que os anjos nos invejam!
Com sarcasmo julgam poder melhor que isso
E sonham substituir-nos nos negócios,
Mas têm medo de herdar a responsabilidade.
É que o anjo não é flor e nem é livro,
O anjo é só um homem inacabado.
Mas o que deu nessa cabeça?
Ser a sintese de todas as filosofias,
Ser a luz que permaneceu acesa
Na noite da grande escuridão?
Queres ser o corvo do poeta
O Mistério alquímico das catedrais?
Mas também pensas, adivinhas
As coisas boas que virão.
Sabes que é bom não esperar as coisas
Melhor é ir atrás do vento,
Pois as dores de classe e as individuais
Só se curam por simbiose.
Conquanto ganha-se, perde-se.
Mas que importa ser primeiro
Onde os pares não te alcançam,
E no dilúvio o gado salva-se
Mas a mobília é levada no lugar do cão?
Contudo insiste-se. É Tempo de meias palavras,
Murmúrios ao pé do ouvido, conversa de esquina,
Ou no bar frent à cerveja, que refresca a santa ira.
Breve instante da pequena compensação,
Quando o cigarro entre os dedos
É o sensor que nos avisa que ali estamos sem defesa.
Mas insiste-se. Há esperança no trabalho,
Que é privilégio do operário.
Antecipa-se o tempo da vingança que virá,vingança doce,
Não da derrota do inimigo, ou da sua humilhação,
Mas de saber que se estava certo e poder sorrir,
Poder sorrir e ser irônico.
Há esperança, que as virtudes não se perderam,
Só se guardaram por um pouco,
Um tempo e mais um pouco
Até que venha a redenção.
E voltar para casa à noite, depois do dia oficial,
É como ir ao bordel ou ao futebol
Enquanto a esposa pare o filho.
Mas há remédio para isso e se chama Assunção.
Mesmo só para escarnecimento
De todos quantro ficaram indiferentes.
Afinal, quando o tempo é o juiz,
É certo que haverá imparcialidade.
Este poema foi publicado no livro de minha autoria, "Noite Vento e Chuva", pela Edigraf, São Paulo 1986. Foi feito pensando no meu pai, José Mariano, que faleceu em 1956. Dediquei-o também a um grande amigo e mestre, o Professor Waltely. Meu pai era um homem que tinha o sentimento do mundo. Semi anafalbeto, no entanto me ensinou a gostar das letras. Ele me dizia que só existe uma forma de sermos felizes no mundo. Assumi-lo completamentte, como se ele fosse a nossa própria família e a nossa própria casa. Nos doarmos a ele sem esperarmos reconhecimento ou recompensa. Hoje, aos sessenta e quatro anos ainda não encontrei uma fórmula melhor para voltar para casa contente, do que essa que ele me ensinou.
Republico-o aqui em homenagens a todos os pais, que como ele, souberam cultivar o verdadeiro significado da palavra Assunção.
A cidade que completa os homens não foi Atenas.
Nem ouvi que fosse outro o reduto dos homens completos..
Se esperança ainda houver, buscai-a nos livros,
Ou pode ser que a encontremos no olhar da mãe,
No amor do amigo, ou até no candidato que ganhou.
Os que já morreram ainda nos governam.
Ditam leis, nos policiam o pensamento.
Meu pai morreu, o teu também,
Julgamos que deles nos libertamos,
Mas cada dia parecemos mais iguais.
É claro que os anjos nos invejam!
Com sarcasmo julgam poder melhor que isso
E sonham substituir-nos nos negócios,
Mas têm medo de herdar a responsabilidade.
É que o anjo não é flor e nem é livro,
O anjo é só um homem inacabado.
Mas o que deu nessa cabeça?
Ser a sintese de todas as filosofias,
Ser a luz que permaneceu acesa
Na noite da grande escuridão?
Queres ser o corvo do poeta
O Mistério alquímico das catedrais?
Mas também pensas, adivinhas
As coisas boas que virão.
Sabes que é bom não esperar as coisas
Melhor é ir atrás do vento,
Pois as dores de classe e as individuais
Só se curam por simbiose.
Conquanto ganha-se, perde-se.
Mas que importa ser primeiro
Onde os pares não te alcançam,
E no dilúvio o gado salva-se
Mas a mobília é levada no lugar do cão?
Contudo insiste-se. É Tempo de meias palavras,
Murmúrios ao pé do ouvido, conversa de esquina,
Ou no bar frent à cerveja, que refresca a santa ira.
Breve instante da pequena compensação,
Quando o cigarro entre os dedos
É o sensor que nos avisa que ali estamos sem defesa.
Mas insiste-se. Há esperança no trabalho,
Que é privilégio do operário.
Antecipa-se o tempo da vingança que virá,vingança doce,
Não da derrota do inimigo, ou da sua humilhação,
Mas de saber que se estava certo e poder sorrir,
Poder sorrir e ser irônico.
Há esperança, que as virtudes não se perderam,
Só se guardaram por um pouco,
Um tempo e mais um pouco
Até que venha a redenção.
E voltar para casa à noite, depois do dia oficial,
É como ir ao bordel ou ao futebol
Enquanto a esposa pare o filho.
Mas há remédio para isso e se chama Assunção.
Mesmo só para escarnecimento
De todos quantro ficaram indiferentes.
Afinal, quando o tempo é o juiz,
É certo que haverá imparcialidade.