ÍMPAR
          ®Lílian Maial

 
Dia de sol e vazio, que preencho de saudade e de vivências:
mar, areia, pegadas, conchas, montinhos, água-viva,
mar, sorvete, biscoito Globo, caminhadas, mergulhos, jacarés,
papai, mamãe, filho e filha,
amiga que veio e que foi,
garçons suados sonhando,
a música, de repente,
o inseto que pousa,
a brisa que brinca,
o riso da criança,

o sol me queimando,
a cerveja esquentando,

todo mundo feliz e eu, prenhe de ti,
sem os teus olhos e o teu cheiro,
mas com este amor que não sai de mim!
 
As palmeiras concordam, os coqueiros acenam
e as ondas me trazem espumas
 (quem sabe recados teus pros meus pezinhos,
que tanto adoras beijar?).
Sinto tua presença em cada grão de areia que já me atiraste,
de longe, na corrida.

Penso teus abraços como riquezas que escondi e perdi a chave.
Sofro a solidão da intolerância e da mentira ,
mas sei que o teu amor é meu,
e, por mais que eu tente enterrar nossa história,
vem a água e lava todas as camadas
e expõe minha tristeza de não estar agora contigo.

Te quero tanto e não te suporto mais!

*****

 
Há um pôr-do-sol em meus olhos de aurora,
como um último adeus no fim das coisas.
Uma inércia atrevida, uns cacos na pele exaurida,
sangrando o teu ódio e o teu amor.
Há essa falta de beijos, esse abraço vazio de corpo,
esse aconchego fantasma.
Um eu sem ti, um jardim sem quem o olhe,
a saudade que machuca, sem remédio que melhore.
Há esse peito tão cheio, essa vontade tão forte,
e esse gosto iminente, isolado e indecente
do desejo de morte.
 
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