Das ausências

Sempre a declaração sai perfeita para o próprio reflexo nos espelhos dos quartos vazios.

Sempre o discurso sai melhor para a platéia invisível que mora nas paredes e cujos aplausos são mudos.

De ausências, digo que precisamos.

Primeiro momento depois que o amigo foi embora e o céu que é ele se inicia em nós

Primeiro dia sem o corredor das escolas,

Primeiro toque que a mão quer e não encontra o que tocar

E é aí que a maquinaria da saudade funciona.

É da ausência do que sabemos que existe

Da ausência que já é em si a promessa da presença...

Que brotam os botões apertados da falta

Pois é apenas sem que desejamos estar com.

E ainda que toque o que realmente é doído

Ainda que seja triste por demais

Devo me perguntar:

Em quantos lugares estão agora minhas ausências?

Em quais lugares eu não estou?