AS FLORES DA SAUDADE

AS FLORES DA SAUDADE

Em miúdos toque,

em suave aproximação,

pequeninas gotas repousam silenciosas

em minha janela.

Tímidas, fazem-me convites

e provocam despertares inconscientes.

Chove bonito.

Chove em paz.

Lá fora, um brilho de verniz

emana da paisagem.

A catedral, o rio,

os casarões adormecidos,

os morros floridos por árvores roxas,

tudo resplandece.

As flores da Quaresma

e até mesmo os telhados velhos

cintilam úmidos

revestidos de súbita mocidade.

Os sentimentos, as cores, a natureza, as flores,

às vezes, se combinam.

Há flores que não comportam o peso das gotas,

e, vencidas,

trêmulas,

deixam escorrer por suas pontas

suas muitas águas acumuladas.

As flores têm cor de saudade,

a chuva tem luz de novas idades,

e os meus olhos, comovidos,

se desmancham diante dessa fragilidade.

Não sei se chove a chuva

ou se chove eu mesma.

Há sentimentos que chegam também de mansinho.

Chegam bonitos.

Chegam em paz.

Consola-me saber

que, assim como as flores

despencam chovidas da Quaresma ,

a Saudade que hoje choramos

também se vai,

aos poucos, desmanchando-se pelos dias.

E os amores, os remorsos, o abandono

sutilmente se despreendem das dores

e cedem passagem

a outras primaveras.

Pela manhã,

o sino da igreja

anuncia um novo dia

e as pessoas

caminham à margem do rio,

pisoteando, sem perceber, as pétalas roxas

esquecidas pelas ruas de suas vidas.

A Paulo

In Memorium

Eterno anjo sobre a minha poesia

Carmem Teresa Elias
Enviado por Carmem Teresa Elias em 23/07/2009
Reeditado em 11/09/2012
Código do texto: T1715342
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