A SENTINELA

Enquanto falas tento decifrar os teus lábios. Pareces tão séria e solitária feito eu, a lhe sentir tão perto e tão distante, sem poder tocá-la nem provar seu sabor.

Enquanto fechas os olhos sonho vivê-la na realidade da vida. Um anjo adolescente também se apaixona mesmo com a alma cheia de medos da vida eterna. Tento alegrar-te, mas não consigo roubar um pouco da tua dor.

Enquanto tomas teu banho de incenso ouço um canto triste de ave silenciosa. Fico sem graça como as garças que um dia desejei ter pra te vestir de branco.

Enquanto apenas o canto da tua boca ri para mim sinto o quanto é intensa tua luz. Ilumina-me por dentro feito fogo nos corações dos amantes que padecem aflitos sem poder saciar a sede de amores.

Enquanto te deitas nua e fria sinto a vida dissipar-se sobre a cama. Teu corpo é feito de céu e de mar. Um espelho refletindo sem mentiras a tua imagem perfeita.

Enquanto beijas e ama espalha teu cheiro pela madrugada. Uma rosa rara exalando um precioso perfume enlouquecendo os homens e animais num cio sem precedentes.

Enquanto te calas sinto teus pensamentos. Pareces tão pura e inocente como uma criança carente de carinho sem poder expressar a quantidade exata.

Enquanto passas por mim sinto teu adeus em meus olhos. Vais embora pra sempre sem saber dos meus desejos. Desta vez fico aqui parado feito uma fruta madura e doce sem ninguém para provar-me.

Herivaldo Ataíde
Enviado por Herivaldo Ataíde em 16/07/2009
Reeditado em 02/08/2009
Código do texto: T1702921
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