Minha casa

Sentado sobre um degrau

de uma pequena escada

fico escarafunchando a noite,

vendo estrelas e sentindo o leve frio

que o final de outono traz

para as nossas noites estreladas.

Prédios altos, barulho de talheres,

vozes de transeuntes;

tudo é motivo de poesia

que se materializa na folha de papel.

Um som indecifrável,

talvez o som da noite

que mistura tudo o que dela advém.

Folhas secas raspam sobre o chão de ardósia

e as árvores balançam num ballet desengonçado.

As luzes amarelas lembram velas,

grandes castiçais a iluminar

minha pequena passarela,

meu jardim de flores,

minha vista dessa sacada

defronte ao meu prédio.

Minha moradia fria por fora

mas com um imenso calor humano interno

que aquece até quem dela já foi embora.

Poesia publicada no livro Viver: um jogo perigoso, de Márcio Martelli, Editora In House (2009)