Cadê a Fazenda Grossos?!
- Cadê o toucinho daqui?
O rato comeu.
A Fazenda Grossos era inocente,
Boa, generosa,
Não encontrei a nossa Grossos de antigamente,
Tudo está diferente.
- Cadê os Grossos daqui?
- O bicho comeu...
Havia pomar, umbuseiros, cajueiros, laranjais...
Histórias de trancoso, Casa Grande com alpendre,
Curral, o leite da vaca, rapaduras, queijos e qualhadas....
Havia festas, novenas e ladainhas, na capela, a noite inteira.
Cantorias, noites estreladas, paçocas e garalhadas inocentes.
Banhos de açude, panelas de barro, fogão a lenha, pratos em porcelana coloridos,
Lampião a gás, ferro em brasa,
Mêdo das jararacas, lagartos e cascavéis.
Passas de caju, secando ao sol, umbusadas, sequilhos, bolo campineiro.
Rêde no alpendre, jumento com cangalhas, água doce pra beber.
- Cadê o açude que era aqui?
- A seca acabou....
- Onde está minha avó, tios, primos?
- O Senhor os chamou.
Tudo não está mais, no mesmo lugar.
Tiraram sua inocência, os cajueiros, umbuzeiros....
Desnudaram sua alma.
Plantaram em nossos tanques de água de beber.
Plantaram em nossos corações outros sentimentos.
A Fazenda Grossos está tão diferente,
A porteira, que se abre, não é mais a mesma.
Cadê Grossos da minha infância?
Permanece, apenas, em minha saudade.