A Sra D, Ximinha


Senhora Ximinha

Sra Ximinha era uma velha amiga de meu pai 
Negra de pele brilhante,de ar bondoso
mas com aprumo de orgulho.
Vestida de panos,vistosos, bem arrumada.
Já senhora de idade mas, de grande jovialidade.
Simpática, bem falante.
Nela existia algo de fascinante 
Eu gostava dela.
Atraia-me aquele seu ar de sabedoria.
Aqueles olhos muito vivos que eu queria lêr
E eu pensava, quando a olhava
Que ela muitos saberes antigos teria.
Todos os meses ia receber
a renda da sua velha casa
Ao lado do sitio
onde meu pai tinha os seus armazéns.
Nesse dia ela passava ali algum tempo
Tinha ali antigos vizinhos
Logo que a via cumprimentava-a
Mais à frente, na nossa casa
minha mãe tinha o almoço pronto. 
Ximinha era da casa.
Gostava dos cozinhados da minha mãe.
À mesa sentava-se ao lado do meu pai
Não parava de falar
Misturava o quimbundo que eu não dominava,
com o português que ela falava.
Nesse dia, a nossa mesa era de alegria.
A sua forma de estar contagiava
Já há uns bons anos nos conheciamos.
Ela gostava de mim e, dizia.
Menina, vem cá e virava-me a cabeça
olhava-me nos olhos fixamente
Vou fazer-te um feitiço.
Para casares com branco bonito e rico.
Sentava-se bem disposta,
metia o cigarro na boca, de lume para dentro.
Era cigarro escuro de mortalha
e falava ao mesmo tempo.
Eu dizia, Sra da Muxima,
que queima a língua dona Ximinha!
Mas ela continuava fumando e falando
Depois ria e banboleava-se
dançando uma dança ritmada.
Pegava na minha mão e,
queria que eu dançasse com ela.
Todos riam e eu envergonhada.
Depois ia desfazendo o seu aviamento,
as imbambas que ele transportava.
Dali saiam coisas que eu pasmava.
E era então, que ela me fazia o feitiço.
Com coisas e coisinhas, dentro de frasquinhos
e embrulhos de paninhos, e ervas e ervinhas,
e falava numa linguagem
que eu não entendia, estava a invocar
os seus santos com muito preceito .
E ainda tenho um frasquinho de cheirinho ,
que já não cheira a nada,mas que sempre guardei cismada 
ela  dizia-me para colocar todos os dias
um toque de dedinho, atrás das orelhas .
E, às vezes fico-me  a pensar
que se tivesse seguido à risca esse feitiço,
teria casado com branco bonito e rico.
Que saudades tenho da Senhora Ximinha.
De Tta

Coisas de Africa
 que nunca esquecerei
 

Tetita ou Té
Enviado por Tetita ou Té em 13/06/2009
Reeditado em 01/07/2009
Código do texto: T1647498
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