DOS MEUS GUARDADOS
Meu neto quase me pega
Com os olhos cheios dágua.
Para a emoção pedi trégua,
Pois saudade não é mágoa.
É que eu andava tropeando
Num tempo que não existe,
Com uma tropa estendida,
Que a marchar ainda insiste.
E tudo lembra essa era...
Um velho relho pendurado;
Um par de esporas gastas...
São partes dos meus guardados.
Pra muitos não tem valia,
Mas pra mim é algo sagrado!
A ronda, o raiar do dia...
A prosa, o berro do gado.
Se ouço um grito de: Êra boi!
– Nos versos de uma canção –
Sinto estrivarem-se os pés
E a alma erguer-se do chão!
Quem já tropeou nos caminhos,
Mascando a poeira da estrada,
Traz horizontes nos olhos
E uma saudade guardada.
Porque, nos tempos de moço,
Quem riu e pagou pra ver,
Chora se o tempo mostrar
Que era feliz sem saber!
Me basta só esta saudade,
– Não vou lutar contra o tempo –
Quando a lembrança invade
Eu volto a tropear “por dentro”.