Saudade
Em lapsos de devaneios eu te encontro.
Muitas vezes até vejo-te por esses campos
especulando umas plantas qualquer, enquanto,
fico só a espreita, observando-te de canto.
Noutros momentos te percebo
pela casa perambulando
e eu te sigo, solícita, em segredo,
enquanto vais distraído andando.
Noutras horas eu, perfeitamente, te escuto
perder o senso e soltar aquelas gargalhadas,
aqueles teus sorrisos, exagerados, sem escrúpulos,
súbitos, que te ocorriam do nada.
Outras vezes sonho com barulhos na casa,
penso tê-los escutado e logo desperto,
abro as cortinas, portas, janelas,
e percebo todos os cômodos desertos.
Lamento, mas admito, é ilusão essa tua presença,
e eu de pálpebras fechadas, andando as apalpadelas,
fico me enganando a vista, forjando evidências
que me mascarem a tua ausência, pura quimera.
Vejo enfim, nessa ausência e vagueza,
o quanto a vida me tem sido avara,
despojando-me, agora,com aspereza,
do que ela mesma, antes me preparara...