Rastros
Sombras habitam um jardim vazio,
gotas de chuva escorrem pela janela,
brinco com o percurso na ponta do dedo,
tentando me orientar pelo rastro no vidro,
esperando visualizar mais do que folhas caindo,
rezando para não demorar muito o fim do inverno,
torcendo para que esteja aquecida onde estiver,
imaginando seu sorriso iluminando todo um dia...
Nas palavras-cruzadas rabisco seu nome,
o tempo corre lentamente no relógio enferrujado,
se não fosse tão tarde poderíamos ouvir juntos uma música,
eu poderia me arriscar a fazer uma mágica para diverti-la,
poderia voar até um constelação para colher estrelas ao seu gosto,
fazer de seus sonhos as minhas realizações à cada dia de convívio,
ouvir você ler as notícias do New York Times ou do UOL pela manhã,
implicar com sua voz rouca cobrindo-a de carinhos e beijos roubados...
Se pudesse tomar o ontem em minhas mãos novamente,
sem prejuízo de um futuro que teríamos à frente,
não perdendo o hoje onde as coisas acontecem,
quem sabe o curso do navio fosse diferente,
e eu não me sentisse tão ilhado em mim mesmo,
como um comandante esperando o naufrágio de seu navio,
observando os botes se afastarem com os sobreviventes,
sendo engolido por meu próprio rodemoinho,
até somente existirem as calmas águas do oceano...