MESA DE POETA

Papéis amassados,

pena abandonada.

Intacto o retrato da musa,

de olhar profundo, mechas de cabelos sobre o rosto.

Rosto sereno, quase de uma santa.

Santa companheira

de madrugadas inteiras.

Mesa de poeta...

um pedacinho do mundo,

de si mesmo.

Quarto sombrio, injucundo;

quatro paredes amigas.

Amigas de infortúnio, de derrotas.

Mesa de poeta...

banhada por pranto mudo,

na saudade que revela,

que diz tudo.

Mesa de poeta...

versos feitos e desfeitos;

solitude, criada e aliada

na luta contra os complexos.

Mesa de poeta...

refulgente com os reflexos

do rútilo lunar.

Mesa já tão só,

coberta pelo pó.

Papéis amassados, pena jogada,

retrato de musa.

Mesa de poeta...

como ele, fostes abandonada.