MELODIA QUE O PROGRESSO LEVOU
MELODIA QUE O PROGRESSO LEVOU
Imagine que estejas a viver
Na era antes da luz elétrica
Em que as noites eram iluminadas
À luz de velas, lamparina, lampião, lua, estrelas.
Imagine ainda que ao fundo de seu casebre
Há o braço de uma fazenda
Que se expande a uns duzentos metros.
E que adiante do mesmo
Encontra-se e se avista um morro.
Um morro que é um distrito:
Desses do interior, com casas simples.
Ruas arborizadas, sem calçamento,
Esburacadas pelas águas da chuva.
Imagine agora, que é chegada a noite.
Que após um jantar típico da região
Estejas preparando-te para um longo sono.
Lamparina apagada,
Noite pelos pais abençoada.
Nesta meia escuridão, ouve-se o coaxar dos sapos.
Lá fora, a Lua abrilhanta parte da Terra,
Inspirando as crianças daquele morro
A soltarem suas vozes
Num côro harmonioso: cantigas de roda
Que de forma deslumbrante
Por minutos constantes
Impedem-te de dormir.
Mas que após um cansadíssimo dia
Essas longas melodias
Te levam a viajar –
de palácios a cabanas,
repousado em seu colchão de paina
que com o suor do trabalho
teus pais puderam lhe dar.
Passada a noite, prossegue a vida.
E em busca do sucesso
Ante nossos olhos, surge o progresso:
A LUZ ELÉTRICA.
Progresso que exterminou a bonança
Emudecendo aquelas crianças
Que com suaves melodias
Aquelas noites resplandeciam.
Agora não dormes mais, feliz não.
Neste teu silêncio adentrastes
Num personagem real.
O casebre, foi onde meus pais educaram-me
à Rua João Pessoa, em Batinga, distrito de Itanhém;
O morro ao fundo, é Umburaninha, distrito de Bertópolis,
com suas crianças reais.
E o personagem que vivenciastes
Sou eu, autor desse, não digo “poema”,
Mas “registro de minha vida”.
Vida que d’outrora foi melodia
Que o progresso levou...
...para sempre!
GILVANIO CORREIA DE OLIVEIRA
itanhemninja@hotmail.com
ITANHÉM, 23/08/2004.