Canção do Inútil Lamento

Vai, celebra as putas todas que amaste

nos versos castos de uma estrofe impura;

sejam tuas mãos as luzes que iluminem,

com palavras, a vida alegre, plena de procuras.

Vida: mercado! Comércio de ilusões!

Procura cálida, intensa, auspiciosa,

terrível, gargalhante

de razões, de postos, de venturas!

Ai, vida, ai, putas, não sei dizer de mim

senão que corro, parado mesmo;

que abraço, afago, gesticulo, faltando-me mãos;

que choro invisivelmente, barco desavisado

num cais morto.

Tudo tão vão, tudo sem rumo, eu estou só.

Tentei tanto, abracei tanto, beijei tanto:

e após isto, ao clarear do dia,

entre meus braços e o tempo, apenas restaram

a brisa que fascina e a música que acalma.

Senhor, que tudo tens e podes,

por que aqui nos lançaste,

neste vale massacrante,

onde todos se chocam

mas ninguém se toca?

Ò canto ardente, de versos bruscos,

por que me bafejaste?

Escrevi-te, mas sigo triste, foi tudo à toa.

Abraço a paz sem paz das rosas

que se abrem para ninguém, ninguém...