Reparo

Mamãe: de tanta gente falei,

jamais de ti.

De tua rara velhice e extrema dedicação,

tua voz antiga e tão serenamente bela

em seus eflúvios para sempre matinais,

sorrintes sempre, pura harmonia.

Mamãe: estar contigo diminui

a ânsia destes sonhos,

a rapidez dos risos,

a graça das atitudes

e a força dos meus abraços

sem braços.

Mamãe: preciso me mostrar mais aos teus olhos,

calar ante a oferta do teu pão,

do teu (tão pouco) dinheiro,

amar mais teus velhos braços

murchos desta vida.

Tu vives, mamãe, cristalizada em silêncio.