Proteção Perpétua

Compro diariamente cadeados médios e pequenos

para lacrar bem meus pais dentro de mim.

Seus cliques fechando-os me fascinam e tranqüilizam.

As chaves, lanço-as no alto mar do Inconsciente.

Eles daqui não fugirão, por certo,

vivos e solícitos e severos e carinhosos como sempre.

Ainda assim, tenho medo:

e se se acabarem os cadeados todos da Terra?

Se o meu dinheiro, pouquinho, findar?

Depois sorrio, gargalho, triunfo interiormente:

Margarida e Francisco possuem dois túmulos:

o do modesto cemitério de Nova Iguaçu,

Estado do Rio de Janeiro, Brasil,

onde jazem vazios de ânsias e sonhos

há mais de sete anos,

e o meu coração, em que permanecem

vivos, solícitos, severos e carinhosos como nunca.

Abraço-os assim na distância

que tudo indetermina e enternece.