Lembras-te
De quando me levavas
Para o teu quarto?
Tu ias acender,
No gesto delicado
E recolhido
De alguém que vai rezar
Ou vai morrer,
Discreta vela
Cândida,
Inocente,
Na mesinha da tua cabeceira...

Despias-te depois
Naturalmente
Expondo pouco a pouco
Aos meus ohos atónitos,
Eleados,
Esse mistério novo,
Repetido, da tua nudez virgem,
Renascida...

Então,
Serenamente,
Como quem beija um pai
Ou acarinha um filho,
Vinhas aconchegar-te nos meus braços
E partilhar da minha travesseira.

E assim,
No silêncio longo dum profundo olhar,
No cheiro doce do teu corpo meu,
Saciávamos
A angústia
Da nossa partilhada
Solidão