SIMPLESMENTE

Eu tentei,

Mas, sinceramente, não dá pra te esquecer
assim, simplesmente...
É como um barco sem velas
que insiste em ir contra a corrente.

Tirar você daqui de dentro
é assim, improvável
seria aportar a bala de volta à arma
separar o que é inseparável

Dizer que você não mais existe
assim, prontamente...
seria ludibriar um coração cansado
mas mentir pra ele, quem é que mente?

Arrancar você daqui à força, de modo
assim, veemente
É como querer ver a flor nascer
antes mesmo que nasça a semente

Por isso eu te amo tanto, de modo
assim, infringente
Pois não posso inocular em mim
algo que te faça nula, ausente

Por isso, ultimamente, ando meio
assim, decadente
é como ver o sangue se esvaindo corpo afora,
poro a poro, sem nenhum corte pra suturar
é como ver a alma se desencontrando do seu lugar
dia a dia, noite a noite, sem vontade de se achar

Não é que eu te ame tanto, de modo
assim, inconsequente
capaz de não amar mais a mim
pois que amor que sufoca, é demente

Mas é que nossas almas se encontraram
assim, despretensiosamente.
E agora queres que eu te esqueça
que desse amor maior eu fique descrente

Passados os traços, 
cortados os versos
me resta a saudade,
indivisível saudade, penitente.

Mas antes que o dia acabe
me sentarei aqui e te amarei ainda mais hoje
e quando parecer impossível, improvável,
amanhã, te amarei novamente


Imagem:
http://www.edvard-munch.com/Paintings/litho/separationII_litho_3.jpg