O temporal e o beijo
Segunda-feira após a Semana Santa,
voltei ao trabalho cheia de saudade.
Dezessete anos, primeiro amor...
Após uma semana longe de ti
nada me faria ficar em casa.
Ao raiar o dia, eu cheia de anseios,
olhei pela janela as nuvens carregadas,
o temporal, o vento a soprar e os raios,
deixaram-me desanimada e triste.
O coração contara dias, horas e minutos
para o reencontro naquela manhã...
E na hora de sair, aquele impasse iria atrasar
a longa espera de tantos dias.
Decidida, abri o armário e vesti a capa,
calcei as galochas e abri o guarda-chuva,
saí porta afora sem olhar para trás.
Na primeira esquina, um carro em disparada
dá-me um banho com água da sarjeta.
Praguejo e sigo em frente alheia ao temporal.
Alguns passos à frente, o vento zombeteiro
transforma o guarda-chuva em vela destroçada,
a drapejar bem forte com as hastes a voar.
Cheguei ao trabalho toda encharcada
e ao entrar pela porta, correste para mim...
Levantaste-me no ar num abraço apertado
e rodopiaste no meio do salão.
Então um beijo ardente uniu as nossas almas
para todo sempre... eternamente.
Praia do Anil, 29.10.2008