PERIGO
(Dedicado ao meu cão de caça)
Há quantos anos! Mais de trinta! Creio!
Era pequeno o meu cão, o meu amigo...
Com ironia o apelidei “Perigo”,
Pois que a ninguém causava algum receio.
Era vermelho e tinha a boca preta.
Oito quilos pesava, senão menos.
Orelhas sempre em pé, olhos pequenos,
Inteligente e vivo! Era um capeta!...
Aos quatro meses já adentrava as matas!
Pelas campinas ia satisfeito!
Era veloz e aquele porte e jeito!
Diziam das virtudes nele inatas.
Aos oito meses era um cão de caça.
Na mata se embrenhava e nos cerrados
Corria a perseguir tatus, veados, ...
Mostrando o seu valor, a sua raça.
Era valente o meu cão, o meu amigo!
Tantas caçadas fez, tão grandiosas!...
Lutas sem par, cruentas, perigosas!
(Sem ironia), À altura de “Perigo”.
Passou-se em Campo Grande este relato.
Depois subi a serra e na fronteira,
Ponta Porã, altiva e hospitaleira,
Palco seria deste novo fato.
Ali, me dediquei à pescaria.
E, as águas,. transparentes, cristalinas,
Descendo, velozmente, das colinas,
Tornava o peixe arisco todo o dia.
Porém, à noite, (quase sempre fria),
Dentro da mata solitária e escura,
Profundas emoções nos assegura,
Tornando-nos feliz a pescaria.
Quando, cansado já, com muito sono,
Ao lado da fogueira me deitava,
O corpo pelo chão se estatelava,
Tomado de cansaço e de abandono...
À minha cabeceira, satisfeito,
Vinha pousar “Perigo”, o companheiro,
O guarda intimorato, quem primeiro,
Rosnando impunha, no sertão, respeito.
Tamanhas foram suas aventuras,
Cheias de audácia, intrepidez, coragem!...
Jamais amor nutrindo à vadiagem.
Amava, sim e muito, as travessuras...
Livre correr pelos sertões bravios...
Vencendo os campos verdes, densas matas...
Subindo no rochedo e nas cascatas...
Banhos tomando, lépido, nos rios...
Um dia, porém, (com que tristeza o lembro),
Dez horas da manhã, sol causticante!
Longínquo céu azul! Brisa ululante!
Manhã esplendorosa de setembro!...
Buscamos, todos, numa sombra, abrigo,
Cansados do retorno da jornada,
Movendo a bicicleta a pedalada,
Seguidos, como sempre, por “Perigo”.
Chegou cansado e as minhas mãos lambeu.
Desceu, depois, ao córrego “São João”.
Dali, jamais voltou meu pobre cão,
Não sei se foi roubado ou se morreu...
Um mês após, num claro e lindo dia,
Peguei a bicicleta, preparei- a ...
Anzóis, caniços, iscas a mancheia,
Boa lanterna num bornal se via.
Porém, faltava alguma cousa ainda!
Algo tão simples, espontâneo e puro!
Faltava nesse instante, eu lhe asseguro,
Do cão amigo essa alegria infinda,
Pulando sobre mim, ganindo alegre,
Correndo no quintal ou pela rua...
Sonhando essa aventura que extenua,
Mas, sôfrego a procura e louco a segue.
Sozinho estava eu! Sozinho e triste!
Fui ao quintal... Depois, olhei na rua...
Tudo vazio!... Solitária e nua,
Uma saudade em seu lugar existe...
Parti contudo. Era mister fazê-lo.
“Perigo” inexistia em minha vida,
Que, agora, solitária e bem sofrida,
Jamais teria sua guarda e zelo.
Funda amargura sobre mim debruça,
Quando me encontro solitário, ao léu,
Às margens dum regato, vendo o céu,
E a tarde moribunda que soluça!...
Sua presença em minha mente mora,
Latindo pela mata, pelos campos...
No perpassar dos loiros pirilampos...
Na carne que não como e atiro fora...
Em minha casa todo mundo o esquece.
No coração, porém, do dono e amigo,
Há de viver, eterno, o meu “Perigo”,
Numa saudade que jamais fenece...
Setembro de 1961.
(Dedicado ao meu cão de caça)
Há quantos anos! Mais de trinta! Creio!
Era pequeno o meu cão, o meu amigo...
Com ironia o apelidei “Perigo”,
Pois que a ninguém causava algum receio.
Era vermelho e tinha a boca preta.
Oito quilos pesava, senão menos.
Orelhas sempre em pé, olhos pequenos,
Inteligente e vivo! Era um capeta!...
Aos quatro meses já adentrava as matas!
Pelas campinas ia satisfeito!
Era veloz e aquele porte e jeito!
Diziam das virtudes nele inatas.
Aos oito meses era um cão de caça.
Na mata se embrenhava e nos cerrados
Corria a perseguir tatus, veados, ...
Mostrando o seu valor, a sua raça.
Era valente o meu cão, o meu amigo!
Tantas caçadas fez, tão grandiosas!...
Lutas sem par, cruentas, perigosas!
(Sem ironia), À altura de “Perigo”.
Passou-se em Campo Grande este relato.
Depois subi a serra e na fronteira,
Ponta Porã, altiva e hospitaleira,
Palco seria deste novo fato.
Ali, me dediquei à pescaria.
E, as águas,. transparentes, cristalinas,
Descendo, velozmente, das colinas,
Tornava o peixe arisco todo o dia.
Porém, à noite, (quase sempre fria),
Dentro da mata solitária e escura,
Profundas emoções nos assegura,
Tornando-nos feliz a pescaria.
Quando, cansado já, com muito sono,
Ao lado da fogueira me deitava,
O corpo pelo chão se estatelava,
Tomado de cansaço e de abandono...
À minha cabeceira, satisfeito,
Vinha pousar “Perigo”, o companheiro,
O guarda intimorato, quem primeiro,
Rosnando impunha, no sertão, respeito.
Tamanhas foram suas aventuras,
Cheias de audácia, intrepidez, coragem!...
Jamais amor nutrindo à vadiagem.
Amava, sim e muito, as travessuras...
Livre correr pelos sertões bravios...
Vencendo os campos verdes, densas matas...
Subindo no rochedo e nas cascatas...
Banhos tomando, lépido, nos rios...
Um dia, porém, (com que tristeza o lembro),
Dez horas da manhã, sol causticante!
Longínquo céu azul! Brisa ululante!
Manhã esplendorosa de setembro!...
Buscamos, todos, numa sombra, abrigo,
Cansados do retorno da jornada,
Movendo a bicicleta a pedalada,
Seguidos, como sempre, por “Perigo”.
Chegou cansado e as minhas mãos lambeu.
Desceu, depois, ao córrego “São João”.
Dali, jamais voltou meu pobre cão,
Não sei se foi roubado ou se morreu...
Um mês após, num claro e lindo dia,
Peguei a bicicleta, preparei- a ...
Anzóis, caniços, iscas a mancheia,
Boa lanterna num bornal se via.
Porém, faltava alguma cousa ainda!
Algo tão simples, espontâneo e puro!
Faltava nesse instante, eu lhe asseguro,
Do cão amigo essa alegria infinda,
Pulando sobre mim, ganindo alegre,
Correndo no quintal ou pela rua...
Sonhando essa aventura que extenua,
Mas, sôfrego a procura e louco a segue.
Sozinho estava eu! Sozinho e triste!
Fui ao quintal... Depois, olhei na rua...
Tudo vazio!... Solitária e nua,
Uma saudade em seu lugar existe...
Parti contudo. Era mister fazê-lo.
“Perigo” inexistia em minha vida,
Que, agora, solitária e bem sofrida,
Jamais teria sua guarda e zelo.
Funda amargura sobre mim debruça,
Quando me encontro solitário, ao léu,
Às margens dum regato, vendo o céu,
E a tarde moribunda que soluça!...
Sua presença em minha mente mora,
Latindo pela mata, pelos campos...
No perpassar dos loiros pirilampos...
Na carne que não como e atiro fora...
Em minha casa todo mundo o esquece.
No coração, porém, do dono e amigo,
Há de viver, eterno, o meu “Perigo”,
Numa saudade que jamais fenece...
Setembro de 1961.