Cor-Local


Estaremos prontos para mais este crepúsculo,
Para abrir nossos corações ao espetáculo
Da acolhida aos filhos
Retornando da faina,
Abraçados à noite e ao aconchego,
Buscando sinais de apego.
Sentimo-nos seguros,
Pois estamos aqui e aqui é Cordeiro,
Esta cidade que, um dia,
Abraçou meus quinze anos,
-Auge de um tempo fagueiro-
Meus filhos recém-nascidos
E o surgir deste nosso amor sereno,
Feitinho para semear e colher só carinho;
Ou, quem sabe, num arroubo mais ameno, 
Ser algumas rimas para um poeta
Casual,
Intimista,
Informal,
Saudosista,
A lembrar que, por estes trilhos,
Já chegaram e já partiram 
Trens incontáveis,
Trazendo e levando
Saudades notáveis.
Em nosso adro tão lindo
Já houve um chafariz
E um lago com barquinhos,
Fazendo viagens tão longínquas
Quanto a imaginação
Dos meninos-comandantes permitissem.
Ah! Quando o vermelho chegasse...
Ah! Quando o azulzinho partisse...

A este cenário chegou meu Quinquim.
Menino que, imagino, era lindo,
E com esse coração bom assim.
Brincava em ruas ainda desertas 
Para depois, nas noites de verão,
Dormir de janelas abertas,
Com os sonhos abrigados nas estrelinhas mais espertas.

A lua, coberta de branco cetim,
Iluminava nossa mata,
Nossa cidade de prata,
De casas poucas 
E espaços sem fim.

O Ginásio Cordeirense revelava-se em vultos desenhados
Na sombra da saudade pelo chão...
Seu Ítalo, Dona Adelaide, os colegas todos, sorrindo, lá se vão.
Revejo-te criança, meu amado, 
e tantas esperanças nos pátios de então...

Ao transportar-me pela luz, além da realidade,
Pouso meu olhar onde se guarda 
Antiga nostalgia.
Sentimos, ainda, e é meio magia,
Na meiga brisa desta cidade,
Um sopro do amor de José e de Maria.

Os tempos passam, refazem-se as praças.
Em catedral remodelada,
Outros mortais pedem bênção à sua verdade,
Erguendo súplicas de graças 
À mesma Nossa Senhora da Piedade.

Na policromia da Avenida Raul Veiga,
Juntam-se amores, ilusões, saudades e sonhos.
Para aqueles que chegam cantando 
Madrigais tristonhos, 
A rua guarda especial alegria:
As festas, nos fins-de-semana, são só alegria.
Dia virá em que, 
Quando o sol ultrapassar o horizonte,
E as estrelas rebrilharem no poente,
Espero, e é só o que cabe em minha mente,
Que esta cidade, como metrópole humanizada, desponte.
As rugas que marcam este rosto
Contam  muito sobre a história de Cordeiro,
Cidade, agora, cosmopolita,
Aberta ao mundo, hoje em dia.
Lembra-nos ousado canteiro
Onde se cultivam futuro e poesia.

Depois que este dia passar,
A rua, outra vez, transmutar-se-á em cais,
A porta, em porto,
A casa, em ninho.
No prato, há pão,
Na taça, há vinho.
O resto, para Deus opalescente e quieto,
É... caminho.




 
Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 27/01/2009
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