A Criança, seu Colégio, sua Saudade

Eis-me só...

A noite tão quente deste meu quarto,

Entregue à penumbra e tão calado,

Faz-me visitar uma saudade antiga

Que se instala no peito da gente

Como se fora uma janela descortinando o passado.

Agora, com fiapos de sonho,

Refaço suaves lembranças de meu colégio amado.

Envolto na ilusão de retorno ao meu passo,

O Colégio de Pádua abriga-me outra vez:

Jovem,

Atleta,

Alegre aprendiz.

Dos dias que lé vivi guardo a essência

Em gestos e momentos encantados

De um casal de admirada existência:

Professor Lavaquial e Dona Mariquinha

São personagens do meu viver azulado.

No tempo fugidio, mais uma saudade

Suavemente se oculta na lembrança

Onde vagueia minha nervosa espera:

Sou rouxinol que canta sobre o telhado do velho casarão.

Chego a sentir o sabor da doce manga espada,

Saciando-me o voraz desejo de possuí-la.

Eu, jovem refém dos encantos naturais de tal esplanada.

Olho ao redor e não vejo mais a professora Zeca,

Embora sinta ainda a doçura da mestra de Língua Inglesa:

" - Big Daflon, begin to read!..."

Arrebatava-me sua delicadeza.

Mas ela já não está mais por perto.

Nem ela, nem...

Ah! Não importa.

Todos têm, em meu coração, abrigo certo.

Arquiteto do futuro na Colina do Farol,

Neste pomar onde a vegetação desnuda-se ao sol,

Sigo reinventando a claridade,

Construtor de minha próxima primavera.

Fecha-se a janela da reminiscência.

Abre-se a porta do saber, do labor e da ciência.

É hora de não mais lamentar o amor interrompido,

A sensação do deserto...

Este encontro com o passado dá-me forças para - outra vez - sorrir.

E, dentro do peito, deixar o bordão irrefutável explodir:

ESTO VIR!

A barca dos homens que hoje já têm uma história

Navega pelas águas da história do colégio amado.

Pouco a pouco construímos nossa trajetória,

Marcados pelos dias vividos longe do lar, mas perto do futuro almejado.

Retornando a Santo Antônio de Pádua,

Saboreio, qual filho recebido em mesa farta,

Os afagos dos amigos preciosos como a água,

Transbordantes nos gestos de Evaldo e Maria Marta.

Hoje, caminhando pelo chão de pedras nuas,

Retorno a mim, de volta a estas ruas.

Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 23/01/2009
Reeditado em 02/03/2009
Código do texto: T1400906