MAÇANETA EMPOEIRADA
Tijucas, 22 de Janeiro de 2009.
Findados milênios e erguem-se nos templos as jônicas colunas do garbo á mal. Um hino em solo soneto no piano sem teclas, único e coroado musical á lembranças seculares da sala vazia, destemida estrela.
Num olhar oposto a verdadeira face reencarna, o outro lado da rua ressoa distante... No entanto tudo está lá, em meus lábios o tecido espesso do sabor apetece, os medos me encontram, a infância azul pedraria, a lareira acesa, a volta vespertina, a presença dos fraternos feitiços.
O encanto é uma escada na varanda, onde a magia do meu retorno padece iguaria. Decifrador de códigos, colhedor de cosmos, escolhedor de almas pra minha ceia, descobridor de cóleras pra minha ceifa... Irrompe o tilintar do chá sendo servido, mas nem as porcelanas existem mais... Atravesso a rua, lustro o cobre circulado que me impede de estar lá... E num rígido giro lá estou.
São as mesmas e tantas janelas, as sentinelas cortinas, o tímido chão, e as paredes em frisson do meu calor... Eu cheguei e não há voz no vão que me emane. É como eu deixei a vida – grafite, contida! Cintilante agora em selvas. Cada senhora prateleira ornada nas suas manias, elas ainda lembram de mim.
Não demoro, florescer as tradições matérias não é minha tarja. A solidez do pesado lar me condena. Numa ponte de esperança e mágoa, num oceano de silencio e estilhaços mais uma vez o outro lado da rua volta a ficar distante, os móveis como cárceres hospedados na sua melancolia. O passado releva, eleva, e a maçaneta voltaa empoeirar-se.
Douglas Tedesco