FALÊNCIA
Cadê as uvas cultivadas
No imaginário da poesia
As adegas frequentadas
Pela nossa fantasia?
As távolas retintas
Por néctares enobrecidos
De cujas castas tintas
Nossos bacos foram ungidos?
Cadê as vazas abertas
Duma vindima reservada,
As poesias não concretas
Nas tabernas recitadas?
Onde andam as nossas taças
Tiritando às nossas causas,
Por que andam tão escassas
Nossas verves, ora em pausa?
Já me amarga o tira-gosto
Que degusto insistente
Mais parece com o mosto
Inda em fase efervescente.
Nossas tinas ressequidas
Pelo tempo em desuso
Exalam à borra apodrecida
E nossos faros são confusos...
Onde andas entabernada
Em qual barril te conservas?
Nossa vindima é quase nada
Sem produto e sem reservas...
Aonde vou sem parceria
Nessa colheita sem castas?
Sem néctares, sem poesias...
E da adega tu te afastas?
Veja amiga - o inverno aí vem!
E nossas taças estão vazias
Os versos, vazios também!
Secou o vinho e a poesia...