Velho Amado ( Meu pai merece)
AMADO VELHO
De repente, não mais que de repente
A voz emudeceu....
A garganta seca travou-se
O silêncio zombou insano
O vento aquietou-se
E a rolagem automática do filme
Desenhou-se em minha mente
De repente, não mais que de repente
Uma casinha branca, abandonada
Com paredes, hoje descascadas pelo tempo
Surgiu um tanto quanto deformada
Na tela que a lembrança exibia
Sarcástica no seu teor abrangente
Ditando as regras da história imortal
De repente, não mais que de repente
Uma cadeira de balanço toma forma
Numa varanda de alpendre singelo
Onde um velho com cãs, brancas como neve
Divertia-se com revistas e jornais
Ouvindo num radinho de pilha
O locutor com as notícias locais
De repente, não mais que de repente
O dia fez-se noite sem luar
O esboço na memória rabiscado
Desfaz-se na retina da alma
Voltando veloz a saudade traiçoeira
Onde o personagem tão querido e amado
Beija hoje meus cabelos,
nas asas estonteantes do vento.
Norma Bárbara