SORTILÉGIOS DO FEL
Me pego, ás vezes, divagando
Preso em teias de pensamento
Que me trazem uma imagem, uma lembrança.
Qual lembrança? A lembrança de tardes nos Barris.
Tardes que me remetem a ti.
Esta impertinente fonte de slides do Eu sentimental,
Que é a tua expressão óptica,
Não vaza de minha memória:
Por mais que se faça morosa em sua ausência,
Sempre ancora no trapiche de cores
Que revestem a filha do meu recente outrora.
Embora goste de ter o córrego da tua matéria fluindo em mim,
Almejo todos os dias que a mesma possa encontrar um estuário:
O qual, ao dissipar a água doce da tua melanina impressa
Em minha retina, sempre suscetível á voz de um feixe de luz
Passional,
Livrará minha mente da dor de não poder contentá-la.
Sim, admito que tu és o estio que gostaria de vivenciar
Eternamente.
No entanto, sei que a concreção de tal sonho se faz impossível.
Então prefiro que ele, ainda que paulatinamente, se desvaneça,
Esmaeça-se, sucumba e vire pó.
Com efeito, tal homicídio me ajudará a abrir a janela para
Novos horizontes, além de jogar tuas cinzas no mar de dissabores
Felizes, os quais, em meu ser, freqüentemente, se acumulam aos
Montes. Na verdade, amontoam-se ao bel-sabor da caudalosa
Soturnidade: soturnidade esta que deita em mim como perpétua Chaga desabrida, aberta e ampla suntuosidade.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA